Congregação dos Sagrados Estigmas De nosso senhor Jesus CristoPresente no Brasil desde 1910
Província Sta. Cruz

A MISSIONARIEDADE ESTIGMATINA – “MONGES EM CASA E APÓSTOLOS FORA”.

A MISSIONARIEDADE ESTIGMATINA – “MONGES EM CASA E APÓSTOLOS FORA”.

 

A MISSIONARIEDADE ESTIGMATINA – “MONGES EM CASA E APÓSTOLOS FORA”.  

Pe. Toninho, css[1].

Brasília, 07 de setembro de 2019.

INTRODUÇÃO:

 

A recém-concluída XXV AGE/2019 (Assembleia Geral Eletiva da CRB) teve como Tema: “Consagradas e Consagrados em Missão”, e como Lema: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,5). Este tema tem tudo a ver com o nosso Carisma Estigmatino, pois ao encontro do desejo mais profundo de nosso Fundador São Gaspar Bertoni, devido à sua sensibilidade e ardor missionário, em momento tão difícil para sua terra natal, Verona, norte da Itália.

O nosso carisma tem como título: “Missionários Apostólicos em Auxilio aos Bispos”; este é o nosso lema, que nos motiva a estar em uma permanente atitude de missão e que está em plena sintonia com o tema da CRB, “Consagradas e Consagrados em Missão” e o Horizonte do triênio (2019-2022) da CRB, que ficou definido desta maneira: “Nós, consagradas e consagrados em missão, movidos por uma mística profético-sapiencial e articulados institucionalmente, procuramos estar presentes onde a vida está ameaçada, responder aos desafios de cada tempo, tecendo relações humanizadoras e interculturais, ouvindo o clamor dos pobres e da terra, para que o vinho novo do Reino, anime a festa da vida”. Este horizonte iluminador, manifesta o espírito de comunhão eclesial entre a nossa Congregação e os religiosos do Brasil, para servir, generosamente, à causa do Evangelho e da Igreja neste momento de grandes desafios.

A questão da missionariedade, vive hoje o desafio provocativo do Papa Francisco, que nos convoca a ser uma “Igreja em saída”, lembrando-nos que a natureza da Igreja, é essencialmente missionária. Em palavras do Papa, “A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”[2] (EG n. 24). Assim a vida e a ação da Igreja giram em torno do amor e se tornam “fonte da ação evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros”? (EG n. 8).

Veremos a seguir, o contexto em que nasce nossa Congregação, porém, será apenas uma menção do aspecto histórico vivido por ele, sem a pretensão de aprofundar as consequências da guerra napoleônica pela disputa do território veronês.

1. CONTEXTO HISTÓRICO DO FUNDADOR – SURGIMENTO DA CONGREGAÇÃO.

            Nosso fundador, São Gaspar Bertoni nasce em Verona, Itália (9/10/1777 – século XVIII) e falece santamente em 12/06/1853; ele funda a Congregação em (04/11/1816 – século XIX), em um período, chamado pelos historiadores, de Época Contemporânea (1789 até os dias atuais).

A Idade Contemporânea é uma época da História que tem início em 1789 (começo da Revolução Francesa) e que se estende até os dias atuais.  

 

 Principais características no mundo ocidental

- Consolidação do capitalismo como sistema econômico.

- Desenvolvimento industrial.

- Ascensão política e econômica da burguesia industrial, principalmente nos países europeus.

- Consolidação do regime democrático após meados do século XIX.

- Neocolonialismo e Imperialismo: disputa de territórios, mercados consumidores e fontes de matérias-primas pelas potências europeias.

Temos neste contexto histórico, que vivemos desde o final da era moderna (1789), período em que se dá a “emancipação das ciências e o surgimento de correntes filosófico-ideológicas, que combatem abertamente as propostas da Igreja, ou, ao menos, se distanciam muito de seu pensar, como o idealismo, o absolutismo, o racionalismo, o positivismo...” Aqui, a fé quase não tem espaço. A revolução francesa (1789...) talvez seja a expressão mais eloquente desta autonomia rebelde das ciências em relação à teologia cristã. O mundo, começa a se organizar em torno da ciência e não mais a partir e em função da religião e da fé.

“No interior da Igreja, movidos pela ação do Espírito Santo, desencadeia-se um verdadeiro surto de surgimento de Congregações Religiosas de caráter missionário. Em 150 anos (1800-1954) surgem 1254 congregações de direito pontifício”.

Na Idade Contemporânea, em especial no final do século XIX e início do século XX, a Igreja atravessa um período difícil, em especial, por causa dos novos contextos sociais que afastavam a Igreja da vida cotidiana das pessoas e dos centros dos debates sociais. O processo de secularização, cresce rapidamente, especialmente após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial”[3]. Alguns historiadores chamam, esse período, de término da Era Constantiniana, com o fim da aliança (ou separação) entre Estado e Igreja. A religião passa a ser desprezada, em nome do “progresso cultural”[4]. A sociedade fica marcada pelo racionalismo, priorizando a razão em detrimento da fé e dos valores transcendentais; em resumo podemos dizer que a era da fé agora dá espaço à era da razão.

Os Mosteiros, assim como as Congregações, nascem como uma resposta concreta aos problemas surgidos dentro e fora da Igreja, em diferentes períodos da história.

Por tanto, é neste contexto que surge a nossa Congregação. Na época em que viveu São Gaspar Bertoni, entre final o século XVIII e meados do século XIX, a cidade de Verona era palco de constantes conflitos entre os exércitos francês, de Napoleão Bonaparte, e austríaco, que ocuparam a cidade e disputavam a sua posse.

Tal situação provocou um clima de desordem e libertinagem, que atingiu principalmente a juventude, totalmente desamparada e cheia de ideias revolucionárias, e o próprio clero, que também, por causa das guerras, havia mudado sua mentalidade. Eram inúmeros os feridos de guerra, e não havia escolas para os meninos pobres[5]. Consideramos ser este o resultado mais grave em consequência desta guerra e todas as guerras: a destruição dos valores morais e da espiritualidade de um povo. Aqui se dá a grande contribuição dos Padres Estigmatinos, como Missionários Apostólicos, do ponto de vista social e eclesial, já que a nova Congregação procurou assistir especialmente a juventude pobre com a criação dos Oratórios Marianos, com formação técnica para que pudessem aprender uma profissão, e também se preocupou da formação no seminário e o aconselhamento espiritual do clero que estava desorientado.

 

2. O lema: “Missionários Apostólicos em auxílio aos Bispos”: Inspiração bíblica: Mt 28,16-20 – “Ide e ensinai”.

 

            Em nosso brasão, estão gravadas estas duas palavras (Euntes Docete = Ide e Ensinai) que aparecem nos vv. 19 e 20 do citado evangelho. É uma afirmação categórica do mandato evangélico, com o qual Jesus define claramente o caráter missionário dos seus discípulos. Este mandato fundamenta e ao mesmo tempo revela o objetivo da missão. A missão é: que todos conheçam a Deus por meio do Batismo, e façam também a experiência do discipulado, na vivência da comunhão trinitária.

            Diz o Papa Francisco, “a Igreja, que é discípula missionária, tem necessidade de crescer na sua interpretação da Palavra revelada e na sua compreensão da verdade” (EG n. 40). E, para São Gaspar, grande estudioso da Escritura, este texto se constitui na chave de compreensão e inspiração para que a Congregação possa levar adiante a sua missão, que consiste em transmitir, aos outros, as verdades contempladas (Constituição do Fundador = CF - n. 49).

            Este fragmento do evangelho de Mateus mostra o caráter universal da missão dos discípulos. Portanto, esta passagem oferece uma série de elementos que permitem entender o restante do evangelho. Aqui, tem lugar a manifestação de Jesus ressuscitado, no qual se revela o mistério profundo de sua pessoa e o envio dos discípulos, cuja missão consistirá em: reunir todos os povos, para torná-los discípulos de Jesus.

            O encontro com Jesus dissipa todas as dúvidas e recupera a confiança do seguimento, e posteriormente o compromisso da missão, com a certeza de que Ele os acompanhará até o fim dos tempos. A superação do medo, dá aos discípulos a capacidade de levar adiante a missão de ir e transmitir o Evangelho à luz do Espírito Santo. Entendemos, a partir destes poucos versículos, que a Igreja é desde sempre missionária, e sua finalidade, é anunciar a salvação universal, que vem do próprio Jesus.

 

A) Missionários Apostólicos: O nosso lema, constitui a essência e a finalidade do Carisma Estigmatino. Então nos perguntamos: o que é Carisma?

 

A diversidade de modos de viver os ensinamentos de Cristo, que surgiram ao longo dos séculos, dentro da unidade da Igreja cristã, foi denominada “Carismas”.

Segundo o Catecismo da Igreja, no n. 799, os Carismas são definidos como “graças do Espírito Santo que, diretamente ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, pois são ordenados à edificação da Igreja, ao bem dos homens e às necessidades do mundo”.

“Para a Igreja, Carisma assume também, o sinônimo de vivência do Evangelho segundo uma Congregação ou movimento eclesial. Assim, além de designar um dom espiritual pessoal, tornou-se referência para diversos grupos que surgiram ao longo da história, em que homens e mulheres, geralmente em torno de um líder e/ou fundador, passam a viver o seguimento a Cristo de modo comunitário, a partir de regras e do testemunho de um fundador a quem foi manifestado o carisma”[6].

Quando falamos de Carisma congregacional, nos remetemos à expressão ´carisma dos fundadores` que começou a ser usada depois do Concílio Vaticano II. O papa Paulo VI, em 1971, inaugura a terminologia na Exortação Apostólica “Evangélica Testificatio. No mesmo documento, consta também a expressão “Carisma da Vida Religiosa” o qual entende-se como, antes de tudo, “o fruto do Espírito Santo que age continuamente na Igreja”[7].

Ampliando um pouco mais esta visão do Carisma fundacional, a Ir. Veronice Weber em sua tese cita o seguinte pensamento de Yan Paulinus Olla a respeito de Carisma: “Estando na origem da experiência da fundação, o carisma do/a fundador/a apresenta as principais linhas espirituais que caracterizam a identidade própria do instituto, sua missão na Igreja, sua espiritualidade”.[8]

O Carisma está a serviço da missão da Igreja, por isso, é fundamental ter presente a seguinte recomendação de São Gaspar: “disponibilidade para ir a qualquer lugar do mundo, levando o Evangelho a todos os povos”. O Pe. Inácio Bonetti, em seu livro “Na escola de Deus com São Gaspar Bertoni”[9], citando a CF do fundador, nos diz que ele exigia isso para os seus missionários: “Cada um se proponha, o exemplo dos Apóstolos, dos quais sabemos que se fizeram tudo para todos a fim de ganhar todos para Cristo”. O religioso Estigmatino, como todo cristão batizado, deve por vocação, estender a missão que é a mesma do próprio Jesus.

São Gaspar se empenhou, e também a sua Congregação, em todas as formas de evangelização; a expressão, “Verbi Dei quodcumque ministérium: O ministério da Palavra de Deus sob todas as suas formas (CF 163), prescreve nas Constituições a seguinte finalidade, tendo presente as maiores necessidades do Reino de Deus (Cf. Mc 1, 15), nos diversos tempos e lugares, conforme os pedidos dos Pastores da Igreja”.[10] A mobilidade no processo de evangelização é imprescindível, pois deixa de manifesto o nosso desapego e afeição por lugares e pessoas, para desta maneira cumprir cabalmente nossa vocação de anunciadores da Boa Notícia.

No projeto missionário proposto por São Gaspar, devemos considerar três elementos fundamentais para alcançar este objetivo:

1º. Disponibilidade: Como já foi mencionado anteriormente, na CF n. 5 diz: “Dispostos a ir a qualquer lugar, na diocese e no mundo”; Não concorda com o espírito de missionário apostólico um voto de estabilidade.

2º. Gratuidade: Na CF n. 3 diz o seguinte: Servir a Deus e a Igreja “gratuitamente”. São Gaspar, diz o Pe. Inácio Bonetti, parece ter escolhido como sua norma imutável o que S. Paulo havia aprendido de Cristo: “Há mais alegria em dar que em receber” (At 20,35); e Também o Pe. Giacobbe evidência um aspecto fundamental do espírito missionário, que são Gaspar tirou do Evangelho: “Vocês receberam de graça, de graça devem dar” (Mt 10,8). Portanto, “servir a Deus e à Igreja “grátis omnino”, estabelecido logo no começo das Constituições, se torna o princípio fundamento, do espírito missionário da obra iniciada por São Gaspar[11];

3º. Formação (excelência espiritual, intelectual e vida comum):

Nos primeiros números das CF 6 e a Constituição atual n. 5, o nosso Fundador deixam indicado como uma carta magna  os meios para alcançar este objetivo. Textualmente a CF 6 faz esta relação dos “meios para conseguir a finalidade de Missionários Apostólicos: a própria perfeição espiritual; a perfeita posse das ciências eclesiásticas; a vida comum; o exercício perpétuo e contínuo da obediência, da castidade e da pobreza; o estilo de vida (alimentação, vestuário e habitação), conforme o uso dos eclesiásticos perfeitos, entre os quais vivem, e que sirva de edificação para os fiéis pela sobriedade cristã e pobreza evangélica”.

Diz o Pe. Inácio Bonetti, que existe uma insistência a respeito da ideia de “perfeição”, da parte de São Gaspar, referida tanto quanto no esforço espiritual, como na aquisição da cultura teológica. “A Parte IV das CF no Capítulo II, e a Constituição atual n. 5, é dedicada inteiramente, como já vimos, ao tema do constante progresso, tanto em nível espiritual quanto em nível cultural, que deve marcar a vida do Missionário Apostólico”[12].

À raiz do que foi dito anteriormente pelo próprio São Gaspar a respeito da característica e finalidade do Carisma Estigmatino, percebemos que o próprio título da Congregação, “Missionários Apostólicos em auxílio aos Bispos”, já aponta para um estilo de vida e espiritualidade que têm sua raiz na experiência e vivência dos primeiros cristãos. Uma espiritualidade centrada na pessoa de Jesus, em seus gestos e palavras, tudo isso alimentado por uma intensa vida de oração. Esta espiritualidade adquiriu um rosto que marcou a história da espiritualidade cristã no monaquismo antigo e que exerce valiosa influência até os dias atuais.

 

B) A espiritualidade Estigmatina - “Monges em casa e apóstolos fora”:

 

A missionariedade está relacionada com um fazer eminentemente pastoral (“apóstolos fora”), enquanto a espiritualidade tem a ver com a essência mesma do ser religioso orante (“monges em casa”); a expressão “monges em casa e apóstolos fora” nos remetem a uma característica propriamente monástica, de uma vida marcada por uma espiritualidade profunda centrada na oração íntima com o Senhor, que os leva a uma ação, iluminada pela oração.

Monges em casa, Apóstolos fora”: a expressão do nosso fundador, São Gaspar Bertoni, revela toda a ascese e mística do Estigmatino. O ser monge remete à mística, a uma espiritualidade profunda, um abandono, humildade, vivendo essa ação sobrenatural, configurando-se na sabedoria da cruz, projetando-se no amor esponsal, dentro de uma comunhão fraterna, que cria um diálogo, que faz despertar o aspecto missionário apostólico que vai, partindo desse treino e embebedado nessa mística profunda de oração anunciar a boa notícia, cumprindo o lema do brasão, de “ide e ensinai”, ir e pôr à disposição de Deus os dons que ele nos deu, vivenciando assim o carisma. Para se evangelizar, é preciso primeiramente da fé, e de suas sustentações: conhecer, aceitar, comprometer-se e testemunhar”[13].

Era o lema dos monges, nos primeiros quatro séculos da era cristã: “ora et labora”. Esta célebre frase de São Bento, fundador da Ordem dos Beneditinos, é a característica da espiritualidade monacal beneditina: oração e trabalho. Primeiro a oração e depois o trabalho. Enquanto a espiritualidade inaciana, da qual o Fundador vivenciou profundamente, se trabalha orando, isto é, não existe separação entre uma coisa e outra.

A respeito do binômio oração e trabalho, o Papa Francisco diz o seguinte: “Evangelizadores com espírito, quer dizer, evangelizadores que rezam e trabalham. Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração” (EG n. 262). Uma das nossas prioridades é cultivar uma vida interior a exemplo do Mestre, que nos permita viver a nossa vida missionária com sentido, fazendo com que a nossa ação esteja inspirada e iluminada por uma permanente atitude contemplativa.

Segundo o Fr. Aldir Crocoli[14], “o monacato passa a ser visto como uma ‘sociedade perfeita`, uma verdadeira ‘civitas Dei`, onde o tempo é dividido em duas partes iguais: uma dedicada à oração e outra a todas às demais atividades como: comer, trabalhar, dormir, etc. Nesta atitude, pode-se desempenhar bem a missão de ‘contemplare et contemplata aliis tradere` (Contemplar e levar aos outros as coisas contempladas na meditação).

Esta célebre frase da São Tomás de Aquino, Dominicano, foi plenamente considerada por São Gaspar dentro de suas regras fundamentais e é parte do estilo de vida de todo Estigmatino. Encontramos na CF n. 49 e na C. atual n. 4 a citação e a interpretação da mesma. Este princípio cunhado pelo ilustre Santo Tomás é um dos lemas mais destacados dos frades dominicanos, foi considerado por São Gaspar como um ideal para os seus filhos, no “crescimento das ciências eclesiásticas” e também no crescimento da vida espiritual e pastoral. Vejamos o que diz nosso fundador na referida Constituição: “Nesta Congregação clerical, cuja finalidade é não apenas contemplar para si, mas também transmitir aos outros as verdades contempladas, requer-se uma ciência não comum, perfeita em tudo o que se refere à Fé e à Moral. Portanto, é necessário que os religiosos clérigos deste Instituto se apliquem em adquirir perfeitamente tal ciência”. A excelência no conhecimento das ciências, é um dos meios para conseguir a finalidade de Missionários Apostólicos.

O Papa Francisco nos entusiasma dizendo que “a primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais”; e citando a 1 Jo 1,3, ele afirma que “a melhor motivação para se decidir a comunicar o Evangelho é contemplá-lo com amor, é deter-se nas suas palavras e lê-lo com o coração” (EG n. 264).

São Gaspar soube fazer uma síntese muito importante da riqueza da espiritualidade monacal e de toda a riqueza de conhecimento teológico e espiritual, com grande destaque em outras ordens religiosas, como a Dominicana e a Jesuíta. Essa preocupação com o saber ele a transmitiu como exigência para os membros de sua congregação, dizendo que “é imperioso que cada um tenha profundo conhecimento em uma e outra teologia, positiva e escolástica, especulativa e moral” (CF n. 50), de tal maneira que estejamos em condições de iluminar a vida daqueles que se encontram desorientados.

Lembramos uma vez mais “o missionário apostólico: feito tudo para todos” testemunhado por Pe. Giacobbe em que se dizia que São Gaspar “em qualquer lugar onde chegasse “era tudo para todos”, seguindo as palavras de São Paulo 1 Cor 9,22: “Com os fracos me fiz fraco, para ganhar os fracos. Para todos eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns”.[15] Estas palavras de São Paulo, se aplicam perfeitamente ao estilo missionário de São Gaspar Bertoni.

Em palavras do Papa Francisco, “é urgente recuperar um espírito contemplativo, que nos permita redescobrir, cada dia, que somos depositários de um bem que humaniza, que ajuda a levar uma vida nova. Não há nada de melhor para transmitir aos outros” (EG n. 264).

 

3. CONCLUSÃO:

 

            Vivemos novos desafios neste momento de evangelização da Igreja universal. E como bem diz o Papa Francisco, “não digamos que hoje é mais difícil; é diferente” (EG n.263). Considerando estes desafios da nossa época, a CRB Nacional em sua terceira prioridade, diz que é preciso “Fomentar a intercongregacionalidade, a interculturalidade e a partilha dos carismas com leigas/os. Somos interpelados/as a constituir alianças interinstitucionais, conviver na diversidade cultural e incluir o laicato na nossa espiritualidade e ação, abrindo novos caminhos na missão”. No encontro e comunhão dos Carismas, podemos vislumbrar o novo ardor missionário no seio da Igreja do Brasil e, quem sabe, do mundo. Precisamos acreditar e fortalecer nossa esperança nesta ideia inspiradora que nos leva a ser “uma Igreja em saída” como deseja o Papa Francisco. Assim “a Igreja ´em saída` é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido” (EG n. 46). É sair para favorecer o encontro em realidades pessoais, comunitárias e também sociais, marcadas pelos des-encontros.

            Em relação ao nosso carisma Estigmatino, “o Espírito característico dos Missionários Apostólicos se manifesta em cinco aspectos:

  • Em ser um só coração e uma só alma, na concórdia e união recíproca das vontades.
  • Na contemplação que vivifica a caridade pastoral sempre pronta para tudo: Contemplari et contemplata aliis tradere.
  • Na mobilidade para ir quocumque in diocesi et mundo, livres de dignidades, moradias fixas, benefícios e da orientação perpétua e particular das almas.
  • Em disponibilidade ampla de doação, servindo a Deus e à Igreja grátis omnino, sem interesses econômicos.
  • Na opção preferencial pelos pobres, de acordo com as urgentes necessidades do Reino de Deus.

Sem perder as particularidades de nossos carismas, devemos colocar em comum a riqueza de nossa espiritualidade, em benefício da integração intercongregacional e intercultural, dessa missionariedade apostólica que herdamos do próprio Jesus.

A nossa espiritualidade tem uma caraterística toda especial. A experiência mística de São Gaspar foi fazer em tudo a vontade de Deus. Para tanto é necessário ABANDONAR-SE NELE (e confiar como a criança nos braços da mãe). SER TODO DE DEUS.

 

PARA REFLETIR:

 

  1. Quais são as características próprias de nossa Congregação?
  2. Em nossa ação pastoral, evangelizamos com o coração e autêntico ardor missionário?
  3. Estamos dispostos a ser uma verdadeira “Igreja em saída”, como pretende o Papa Francisco?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

1. Papa Francisco.  Exortação Apostólica - Evangelii Gaudium, São Paulo: Paulinas, 2013.

2. Crocoli, Fr. Aldir, capuchinho. História da Espiritualidade, apostila p. 20ss.

3. https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/27302/27302_4.PDF

4. http://estigmatinos.com/congregacao/carisma

5. Papa Paulo VI. ET - Exortação Apostólica- “Evangélica Testificatio,  n. 11

6. Weber, Ir. Veronice.  Carisma, Instituição e Pessoa - CRB – ESTEF, Porto Alegre, 2012, p. 17.

7. Bonetti, Pe. Inácio.  Na escola de Deus com São Gaspar Bertoni, Gráfica e Editora regional, Brasília/DF, 1993, p. 103.

 

 

[1] Pe. Antonio Alves Dias, css (Toninho): Assessor do Setor de Formação Permanente da CRB Nacional, em Brasília. Pertence à Congregação dos Padres Estigmatinos da Província Santa Cruz, com sede em Rio Claro, SP.

[2]Papa Francisco, Exortação Apostólica - Evangelii Gaudium –, São Paulo: Paulinas, 2013.

[3] Fr. Aldir Crocoli, capuchinho, História da Espiritualidade, apostila p. 20ss.

[7] Papa Paulo VI, ET - Exortação Apostólica- “Evangélica Testificatio,  n. 11.

[8] Ir. Veronice Weber, Carisma, Instituição e Pessoa - CRB – ESTEF, Porto Alegre, 2012, p. 17.

[9] Pe. Inácio Bonetti, Na escola de Deus com São Gaspar Bertoni, Gráfica e Editora regional, Brasília/DF, 1993, p. 103.

[10] Idem, p. 103.

[11] Idem, p. 104.

[12] Idem p. 105.

[14] Fr. Aldir Crocoli, História da Espiritualidade, apostila p. 8.

[15] Pe. Inácio Bonetti, Na escola de São Gaspar, p. 102.