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O jovem no documento de Aparecida - Pe. Reinaldo

O jovem no documento de Aparecida - Pe. Reinaldo

Para falar do espaço do jovem no documento de Aparecida, queremos olhar de modo simples, mas total, a juventude no documento que resultou da Conferência de Aparecida. Lembramos que, por ocasião da JMJ, Padre Federico Lombardi, porta-voz da Santa Sé, assinalou que o documento final da V Conferência Episcopal da América Latina e Caribe (CELAM), conhecido como “Documento de Aparecida”, apresenta chaves para entender temas relacionados à Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro. O tema da conferência era “Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que neles nossos povos tenham vida”. Papa Francisco, então cardeal de Buenos Aires, coordenou os trabalhos do grupo responsável pela elaboração do texto final, reunindo as contribuições dos membros da Igreja da América Latina.

Há um item com o título: “Os adolescentes e Jovens” do capítulo IX (nº 442 a 446), mas vamos olhar o Documento como um todo. Sabemos da opção preferencial pelos pobres e jovens, por parte do episcopado latino-americano, em Puebla. Assim, o lugar dos jovens em qualquer documento posterior deve ser essencial. A pergunta que fazemos é: Há uma preocupação ou uma preferência pelo jovem no Documento da Vª. Conferência de Aparecida (Brasil)? Colocaremos alguns trechos do próprio documento para mostrar o “lugar” que o jovem ocupa.

Segundo o documento, os jovens e adolescentes “constituem a grande maioria da população da América Latina e do Caribe” (443) e “representam enorme potencial para o presente e o futuro da Igreja e de nossos povos” (443). Acreditamos ser a colocação principal a respeito da  juventude, pois  reconhece sua importância demográfica e seu potencial. Na oração final do Documento os bispos convidam a rezar, também, pelos jovens, dizendo: “Fica, Senhor, com nossas crianças e com nossos jovens, que são a esperança e a riqueza de nosso Continente, protege-os de tantas armadilhas que atentam contra sua inocência e contra suas legítimas esperanças” (554). O documento lembra que “a avidez do mercado descontrola o desejo de crianças jovens e adultos.” (50). O Documento refere-se, também, à vida encarada pelos jovens como um espetáculo, onde vale a aparência e onde o corpo (e não a relação com o outro) está em primeiro lugar. “Assim (as novas gerações) participam da lógica da vida como espetáculo, considerando o corpo como ponto de referência de sua realidade presente” (51). Esta cultura não é somente algo que vem de fora. Eles, os jovens, “são produtores e atores da nova cultura.” (51).       

Chama-nos a atenção quatro qualidades juvenis apontadas no documento: 1) A sensibilidade. Os jovens “são sensíveis a descobrir sua vocação”. Recorda que João Paulo II os chamou de “sentinelas da manhã” (443). “São capazes e sensíveis para descobrir o chamado particular que o Senhor Jesus lhes faz”; 2) A generosidade. Os jovens são generosos para servir, especialmente os mais necessitados (443); 3) A potencialidade. Os jovens “têm capacidade de se opor às falsas ilusões de felicidade e aos paraísos enganosos das drogas, do prazer, do álcool e de todas as formas de violência” (443); 4)  A missionariedade. “As novas gerações”, fala o Documento, “são chamadas a transmitir a seus irmãos jovens a corrente de vida que procede de Cristo e a compartilhá-la em comunidade, construindo a Igreja e a sociedade” (443). O documento afirma: “inumeráveis jovens do nosso continente passam por situações que os afetam significativamente” e enumera 11 destas situações: 1) as sequelas da pobreza;  2) a socialização de valores implantada em novos ambientes com forte carga de alienação; 3) a permeabilidade às novas formas de expressões culturais, afetando a identidade pessoal e social do jovem;  4) o fato de os jovens serem presa fácil das novas propostas religiosas e pseudo-religiosas; 5) as crises da família produzindo, na juventude, profundas carências afetivas e conflitos emocionais (444);  6) a repercussão que tem, nos jovens, uma educação de baixa qualidade (445);  7) a ausência de jovens na esfera política devido à desconfiança que geram as situações de corrupção, o desprestígio dos políticos e a procura de interesses pessoais frente ao bem comum (445);  8) o suicídio de jovens; 9) a impossibilidade de estudar e trabalhar;  10) o fato de terem que deixar seus países “dando ao fenômeno da mobilidade humana e da migração um rosto juvenil” (445) e 11) o uso indiscriminado e abusivo da comunicação virtual.

O documento aponta algumas pistas de ação para o trabalho com os jovens. Destaco: Renovar (em estreita união com a família) a opção preferencial pelos jovens, dando novo impulso à Pastoral da Juventude nas comunidades eclesiais; 2) Estimular os Movimentos eclesiais, convidando-os a colocar mais generosamente suas riquezas carismáticas, educativas e missionárias a serviço das Igrejas locais; 3) Propor aos jovens o encontro com Jesus Cristo e seu seguimento na Igreja que lhes garanta a realização de sua dignidade, os estimule a formar sua personalidade, lhes proponha uma opção vocacional e os introduza na oração pessoal, na Lectio Divina, na frequência aos sacramentos, na direção espiritual e no apostolado e 4) Privilegiar, na Pastoral da Juventude, processos de educação e amadurecimento na fé como resposta de sentido e orientação da vida e garantia de compromisso missionário.

Temos que reconhecer que o documento fala dos jovens com profundidade, conhecimento e seriedade. Os jovens marcam presença especial. A opção preferencial pelos jovens foi reafirmada.  Agora temos, como jovens, a missão de “fazer acontecer”. Precisamos buscar meios para se concretize o que o documento apontou como referência para a juventude. Os jovens precisam assumir o papel de “protagonistas” no processo de reconstrução da Igreja e do mundo. Disse-nos o Papa Francisco na JMJ: “Vocês são os construtores de um mundo melhor”. Que tenhamos a coragem de assumir esse papel com coragem e esperança.  

Pe. Reinaldo Reis Santos Lima, css – Formador do Postulado e Vocações Adultas (Campinas-SP)

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