Congregação dos Sagrados Estigmas De nosso senhor Jesus CristoPresente no Brasil desde 1910
Província Sta. Cruz

200 anos de história que nos impele ao apostolado juvenil

200 anos de história que nos impele ao apostolado juvenil

200 anos de história que nos impele ao apostolado juvenil

 

*Pe. Elizeu da Conceição, css

uezile2008@gmail.com

 

 

Em meio a tantas crises de violência e de corrupção é profético anunciar que a juventude é o presente e o futuro de um mundo melhor, sem guerras, sem medos e sem ódio. Tudo isso, um jovem sonhador, nascido no ano de 1777 em Verona, na Itália, seguindo os ensinamentos de Jesus, já havia descoberto e colocado em prática. Seu nome era Gaspar Bertoni, um jovem que se tornou padre, viveu intensamente em oração e na ação, amou os jovens, sofreu com eles, ficou velho, mas nunca deixou de ser, viver e amar de maneira jovem, até que morreu e se tornou santo: São Gaspar Bertoni! Por tudo isso, Padre Gaspar ficou conhecido em seu tempo como Apóstolo da Juventude. Em 1802, criou os Oratórios Marianos para acolher e cuidar da juventude que a Revolução Francesa, iniciada em 1789, abandonou nas ruas. Nesse oratório havia, o que chamamos atualmente, uma Formação Integral: de manhã catequese ou arte cultural e a tarde aprendia-se uma profissão. Em 1816 iniciou a Congregação dos Estigmatinos, com o desejo que alguns religiosos se dedicassem completamente ao anúncio da Palavra de Deus, à educação Cristã da Juventude e ao auxilio ao clero. 

 

Esta contextualização inicial nos mostrar que fazemos parte da realização do sonho de São Gaspar. Estamos há duzentos anos da fundação da Congregação dos Estigmatinos, e a missão dada por este santo ainda está longe de ser completada. Isso não nos desanima, pelo contrário, nos motiva a dedicarmos mais tempo e energia à evangelização dos jovens. Mas certamente brotam questões que nos permitem refletir: Como organizar uma pastoral juvenil que contemple o sonho de São Gaspar? Como mantermos vivo e atualizado o projeto dos Oratórios Marianos? O que é ser Pastoral da Juventude Estigmatina?

 

A Evangelização da Juventude continua sendo um desafio, principalmente com a mudança rápida de mentalidade e o modo de viver na contemporaneidade. Porém, não estamos começando do zero. Há um caminho histórico percorrido por tantos religiosos e jovens estigmatinos que revela uma herança muito rica. Há uma corrente por meio da qual uma geração de evangelizadores (padres, irmãos, seminaristas, jovens) passa a experiência acumulada para outra. Em alguns anos de forma mais intensa e sistematizada, outros de forma mais tímida e com ações isoladas, mas todas com o desejo de imitar Gaspar Bertoni na formação cristã dos jovens.

 

O documento 85 da CNBB nos diz que “Quando evangelizados — com testemunho e metodologia — os jovens se empolgam com a pessoa e o projeto de Jesus Cristo.” (Doc. 85 da CNBB. nº 67). Essa evangelização não é fruto somente de participação nas celebrações eucarísticas. Mas também de uma ação estruturada que contemple toda integralidade da vida humana. O agente dessa evangelização deve ser o próprio jovem, entretanto, a metodologia e a estrutura devem ser acompanhadas por um religioso estigmatino visto que a presença, o apoio e algumas exigências são fundamentais para que o jovem se sinta valorizado e acompanhado. E quando um jovem se empolga com a pessoa e projeto de Jesus é capaz de enfrentar qualquer desafio para conduzir os seus amigos a fazerem a mesma experiência. Assim se sentirá Igreja. Será Igreja. Esse sentimento de pertença é tão difícil para muitos deles que vêem a Igreja como algo ultrapassado, burocrático, uma instituição alheia à vida real. Mas pode ser facilitado no momento em que se encantam pelo exemplo daqueles que são próximos, que se apresentam como comunidade seguidora de Jesus.

 

O Papa João Paulo II, ao se dirigir a todos os jovens do Brasil, em Belo Horizonte disse: a riqueza maior deste País, imensamente rico, são vocês. E isso precisamos assumir como verdade e demonstrar a toda comunidade que, com a juventude, somos portadores da Boa Nova. Mas, “Se quisermos ser portadores da Boa Nova, precisamos ser especialistas, também, na Boa Nova que a realidade Juvenil carrega em si” (O Divino no Jovem. pg. 14.). E aqui, acredito que esteja fundamentado o olhar profundo dos religiosos e dos jovens assessores da Província Santa Cruz, na opção pela juventude. Ela carrega em si as sementes do Verbo, pois “considerar o jovem como lugar teológico é acolher a voz de Deus que fala por ele. A novidade que a cultura juvenil nos apresenta neste momento, portanto, é sua teologia, isto é, o discurso que Deus nos faz através da juventude. De fato, Deus nos fala pelo jovem. O jovem, nesta perspectiva, é uma realidade teológica, que precisamos aprender a ler e a desvelar” (Doc. 85 da CNBB. Nº 81). Eis o nosso grande desafio, ver no jovem os traços de Deus. “Não se trata de sacralizar o jovem, imaginando-o como alguém que não erra; trata-se de ver o sagrado que se manifesta de muitas formas, também na realidade juvenil. Trata-se de fazer uma leitura teológica do que, de forma ampla, chamamos de culturas juvenis. Numa época em que se fala tanto de inculturação ou — em outros termos — de encarnar-se na realidade, de aceitar o novo, o plural e o diferente, na evangelização da juventude, estaremos diante de feições muito concretas e imprevisíveis. Dizer que, para a Igreja, a juventude é uma prioridade em sua missão evangelizadora, é afirmar que se quer uma Igreja aberta ao novo, é afirmar que amamos o jovem não só porque ele representa a revitalização de qualquer sociedade mas também porque amamos, nele, uma realidade teológica em sua dimensão de mistério inesgotável e de perene novidade” (ibid. Nº 81).

 

Neste tempo em que celebrarmos o bicentenário de nosso instituto religioso, somos convidados a vermos que a beleza da juventude está estampada em seu rosto. “Basta que sejam jovens para que eu os ame” (Dom Bosco). Todos eles, todos, são merecedores de nossa atenção e de nosso amor. Por isso, a nossa missão neste período é: “Sermos apóstolos da juventude”, ou seja, que tenhamos a coragem de fazermos a opção pelos jovens afetiva e efetivamente. Sabemos que eles vibram com atitudes simples de acolhida, com atitudes daqueles que são capazes de ver Deus no seu jeito de agir, no seu jeito de rezar e até de namorar.  Por isso, devemos proporcionar estruturas básicas de encontros juvenis em suas próprias realidades paroquiais. Quando eles se sentirem acolhidos de verdade, será possível ajudá-los no crescimento de sua fé. Será possível oferecer a catequese que a assessoria organiza com tanta maestria: “Evangelizar implica, em primeiro lugar, proporcionar o anúncio querigmático da pessoa de Jesus Cristo. Em seguida, esta experiência deverá ser aprofundada em grupos de convivência que devem conduzir catequeticamente a uma maturidade na fé e prontidão para ser discípulo e protagonista na construção do Reino de Deus por toda a vida, buscando a transformação da sociedade” (Diretório Geral para Catequese, nº 49).

 

Certamente os Padres e Irmãos estigmatinos se preocupam com um processo de evangelização, com passos claros, que são manifestados em encontros, reuniões, missões etc. Este processo deve proporcionar sempre o protagonismo juvenil. São eles os destinatários e os agentes da novidade de Jesus. Aos assessores e os Padres estigmatinos (apóstolos da juventude), permanece o mesmo sentimento vivido e ensinado por Jesus: “quando fizerem tudo aquilo que vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis. Apenas cumprimos o nosso dever” Lc 17, 10. Aprender isso é fundamental para amar livremente a juventude, sem se apegar aos lugares de honras que determinados cargos favorecem, sem se apegar à funções. Servir com humildade, determinação e com o melhor de si, é realizar o sonho de São Gaspar Bertoni. Os oratórios serão atualizados à medida que ajudarmos os jovens viverem em grupos de base, pois é ali o lugar do confronto, da amizade, da educação na fé e na vida.

 

Que este tempo de celebração festiva pelo bicentenário de nossa congregação, nos inspire a sermos servos e apóstolos da juventude.